Todos
os amantes do futebol (analistas ou não) sabem quão complexa uma partida de
futebol pode ser, com inúmeros eventos secundários (passes, desarmes,
finalizações, tiros de meta, defesas, carrinhos, escanteios, etc.) que são
executados tendo um único objetivo: marcar um gol no adversário. Para isso
ocorrer, as equipes se estruturam taticamente munidas de diversas estratégias,
dispondo seus atletas em posições de acordo com as características individuais
de cada um. Tudo isso, para marcar mais gols que seu adversário. Dentro desse
universo particular, os goleiros estão inseridos à fim de evitar que os gols
sejam realizados... uma tarefa ingrata, diga-se de passagem. Ou seja, existe um
universo ainda mais complexo por trás desta posição tão injustiçada do futebol.
Partindo do pressuposto de que
queremos refletir sobre o método de análise de desempenho dos goleiros, antes
de mais nada temos que esclarecer alguns pontos. Tais como:
- Como definir um mau goleiro ?
- Como analisar o desempenho de um
goleiro ?
- MAU GOLEIRO: Obviamente
se é difícil classificarmos um bom goleiro, tachar um goleiro de ruim deveria
ter o mesmo nível de dificuldade, não é mesmo ? Ledo engano, pois os
espectadores do futebol possuem uma capacidade incomum de identificar os
famosos “frangueiros”. Mas como podemos detectar o “mau-goleiro” ?
Todo mundo, em qualquer meio social, passa por altos e
baixos, porém muitos goleiros acabam sendo estigmatizados por suas falhas e
passam à ser conhecidos como “frangueiros”.
De maneira geral, os critérios utilizados para
classificar um mau goleiro mais utilizados (de forma consciente ou não) são os
seguintes:
- Falha grotesca:
são aquelas falhas em que o goleiro sofre um gol devido à um erro crasso. Estas
falhas ficam marcadas na memória dos torcedores de forma indelével e a
associação do goleiro ao adjetivo pejorativo relacionado à aves, é
consequência.
Por
exemplo: chute fraco (despretensioso), que o goleiro faz o movimento para
encaixar a bola, porém ela passa de forma surpreendente para o fundo das redes.
- Sequência de falhas
menores: quando o goleiro, mesmo não
cometendo falhas gigantescas, acaba sofrendo um grande número de “gols defensáveis/questionáveis”
em sequência. As falhas menores, são as mais difíceis de classificar, pois o
erro não é tão bem definido e claro quanto as grandes falhas.
Estas
“falha questionáveis” acabam gerando dúvidas no meio esportivo e o goleiro
acaba adquirindo a fama de “mau-goleiro”.
Os dados das falhas são difíceis de se encontrar e um
histórico é praticamente impossível. Tudo isso, porque as falhas dependem de
uma análise qualitativa e os critérios para classificar os gols sofridos não é
um consenso.
Mas será que somente analisando as falhas que conseguimos
recordar de um determinado goleiro, teremos um dado suficiente para determinar
se este goleiro é “frangueiro” / “peruzeiro” / “mão-de-alface” / “braço-de-jacaré”
e afins ?
Creio que possam existir indicadores específicos para as
falhas, mas que não serão determinantes para qualificar o goleiro, por exemplo:
- Média de Falhas
por Finalizações Sofridas: assim poderemos ter uma melhor noção se essas
falhas possuem relação com o nível que o arqueiro está sendo exigido. Exemplo: Média de 0,02 falhas por finalização (falha em 2% dos chutes direcionados
ao gol);
- Tempo Médio
entre Falhas: e se quisermos saber o tempo médio (quantidade de jogos) que
o goleiro falha ? Poderíamos ter uma noção das falhas à um nível mais global. Exemplo: Tempo médio entre falhas de 10
jogos (ou seja, se a média for mantida, existe uma grande probabilidade deste
goleiro falhar no 11º jogo após seu último grande erro).
Enfim, estes foram exemplos simples, mas a ideia aqui é
buscar elevar ainda mais os dados de falhas, e não utilizar friamente apenas um
número. Assim teremos maior embasamento para afirmar se um goleiro comete mais
falhas que outro.
Mas não podemos restringir a avaliação dos goleiros
apenas às suas falhas em gols sofridos, pois no futebol atual cada vez mais os
goleiros estão sendo exigidos em outros aspectos, que não somente suas defesas.
Ao separar o total de eventos dos goleiros nas partidas, percebemos que apenas
uma pequena parte é pertinente às defesas, conforme gráfico abaixo:
Podemos perceber que as habilidade
específicas dos goleiros (defesas e saídas de gol) representam em média apenas
17% e as habilidades gerais (reposições e suportes defensivos) em média
representam 83%. Ou seja, as falhas em gols sofridos representam apenas uma
pequena fração de todas as participação dos arqueiros em uma partida.
Se as habilidades específicas de um
goleiro, representam tão pouco nas intervenções de um goleiro na partida, então
porque apenas as consideramos para avaliar um goleiro ?
Por quê, antes de classificarmos um goleiro
em “bom” ou “mau” não avaliamos sua reposição ? Ou sua saída de gol ? Ou seu
suporte defensivo ? Ou até mesmo, por quê não a importância das suas defesas ?
Essas e outras questões, serão debatidas
no próximo artigo (Continua).