Para complementar a reflexão
sobre as análises de goleiros, decidimos registrar a opinião de 2 grandes
especialistas em análise de desempenho: 11Tegen11
e Gustavo
Fogaça.
Neste primeiro momento,
traduzimos um artigo onde o pessoal do site 11Tegen11 divaga sobre as formas de
se medir o desempenho de um goleiro. Um excelente material que nos faz refletir
bastante...
NUNCA JULGUE UM GOLEIRO POR SUA DEFESA
(Tradução livre do texto: “Never judge a goal keeper by his saves”,
publicado originalmente no site 11tegen11.)
Muitas vezes as análises e a
intuição do futebol se encaixam muito bem, e nestas situações é fácil escrever
artigos de análises. As vezes essa interação não ocorre e a escrita se torna
mais difícil.
Eu estive pensando muito sobre a análise
de goleiros. Um tópico que à princípio parece simples, mas como vamos descobrir
neste post, é realmente uma tarefa difícil obter trabalhar em cima disso e
analisar com propriedade.
De acordo com a “Onisciente”
Wikipédia, um goleiro é “aquele cuja função
é evitar o gol, evitando que o clube adversário marque pontos através de
defesas dos chutes deferidos contra sua meta”.
Então, o que poderia ser mais
difícil do que avaliar quantos desses chutes acabam em gols e “voilá”, aqui
está nossa análise de goleiros ?
Deixe-me levantar uma
questão. Não há necessidade de resposta,
serve apenas para refletirmos sobre o assunto sobre o que achamos correto.
A melhor forma de identificar os
talentos dos goleiros é:
A - Percentual de chutes
defendidos;
B – Percentual de chutes em gol
defendidos;
C - Percentual de chutes
defendidos, levando em consideração á qualidade do chute;
D - Outras;
Na minha história pessoal dentro
da análise do futebol eu tenho dedicado à maior parte do tempo no A, B e C.
Porém na última temporada passei
a maior parte do tempo utilizando a C, mas algum trabalho de fundo que eu fiz
nas últimas semanas mudaram-me para a D.
Sim, na minha opinião, a análise
goleiro não pode se resumir com base na análise das defesas.
Agora, essa afirmação requer um
pouco de back-up, então vamos lá. Na parte restante deste artigo vamos analisar
goleiros no top-5 ligas (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França), que
têm enfrentado ao menos 100 tiros em duas temporadas consecutivas (2012-13 e
2013-14), com o mesmo clube. Para a minha ideia, este é o melhor exemplo para
usarmos, à fim de evitar que os goleiro que mudaram de equipes estraguem nossa
amostra, e para evitar goleiros com números baixos de defesas.
PERCENTUAL DE CHUTES DEFENDIDOS
Vamos começar com o percentual
bruto. Este é o parâmetro mais fácil de recolher, e, provavelmente, a mais
utilizada das ferramentas de se avaliar goleiros. Ele também encaixa muito bem
com a nossa intuição de que os bons goleiros, precisam parar uma maior proporção
de finalizações que goleiros ruins.
O eixo horizontal mostram os
percentuais de defesas no primeiro ano, e o eixo vertical mostram o percentual
de defesas no ano subsequente. Lembre-se que estes são todos os goleiros que
jogam duas temporadas para o mesmo clube e possuem mais de 100 defesas por 2
temporadas seguidas. A correlação não é muito forte, mas não é totalmente nula
entre os eixos.
Geralmente, goleiros que
apresentam bons índices de defesas no primeiro ano, melhoram ainda mais este
índice no segundo ano, mas a dispersão é enorme. Isto torna os dados pouco
confiáveis para estimar o percentual de defesas do 2º ano com base no primeiro.
A repetitividade dos goleiros em
apresentar um bom índice de defesas é pobre. Em geral, se seu status tem uma má
capacidade de repetição, é útil para descrever o que aconteceu, mas muito
enganador supor que as coisas vão acontecer ao longo das mesmas linhas no
futuro (próximas temporadas).
Estes números corroboram com o
excelente trabalho realizado por James Grayson, que encontrou uma relação fraca
semelhante em uma amostragem muito maior, comparando com as equipes em uma
temporada e a próxima correspondente.
PERCENTUAL DE CHUTES EM GOL DEFENDIDOS
Vamos dar um passo em frente e
isolar somente os tiros no alvo. Algumas pessoas optam por usar este índice ao
invés de se usar o índice de defesa em relação ao total de finalizações, uma
vez goleiros dificilmente são responsabilizados por chutes fora do gol. Em
teoria, porém, os goleiros podem assumir a responsabilidade por algumas
finalização para fora. Ao se aproximar de um atacante que pode finalizar em uma
jogada 1 x 1, o goleiro poderia “fechar o gol” de tal modo à forçar os atacantes
para tentar encontrar cantos mais difíceis do gol, e no fim o goleiro “induziu”
o atacante a finalizar para fora. Enfim, são algumas hipóteses que podem
acontecer.
Mais uma vez, o primeiro
desempenho do ano é representada no eixo horizontal, com o segundo desempenho
de ano para a vertical eixo. A ligação é ainda mais fraca para o percentual de
defesas dos chutes em gol do que o índice de defesas para todos os tiros sofridos.
Vamos guardar o debate até o próximo item.
PERCENTUAL DE DEFESAS CONSIDERANDO A QUALIDADE DAS FINALIZAÇÕES
A terceira análise leva em
consideração a qualidade dos chutes. Com base em nosso modelo de Expectativa de
Gols (ExpG), para cada finalização é atribuído uma chance de terminar em gol,
com base no local do chute, tipo de chute e vários outros fatores. Isto ajuda a
medir a dificuldade dos goleiros em realizar defesas. Em teoria, esta análise é
o melhor teste para a qualidade das defesas, uma vez que elimina o fato de
alguns goleiros de enfrentarem tiros mais difíceis do que outros. Gols sofridos
acima de substituição identifica quantos gols um goleiro sofreu acima ou abaixo
do valor de Expectativa de Gols por 100 chutes realizados em gol.
Depois de corrigir para a
qualidade do tiro, toda a conexão entre o desempenho no ano primeiro e segundo
ano desempenho é perdida.
A parte mais intrigante desta
conclusão bastante chocante é que este conhecimento já está lá fora, no
entanto, as pessoas continuam a analisar goleiros baseado somente nas defesas.
Novamente, eu estou apontando para James Grayson, que, com números menores
retirados de um post de Paul Riley, não encontraram correlação entre o
percentual de defesas dos goleiros em uma temporada e a próxima, considerando o
das finalizações.
Por favor, permita-me acrescentar
mais um gráfico de dispersão. Desta vez, eu ligo o percentual de defesas com o
ExpG para mostrar a forte ligação entre os dois:
Nenhum dos goleiros que
enfrentaram chutes com Expectativa de Gol maior que 0,11 apresentou um índice
de defesa maior que 92%, e nenhum goleiro que enfrentou finalizações com ExpG
menores do que 0,09 apresentou um índice abaixo de 90%.
CONCLUSÃO
Colocando todos os quatro
gráficos juntos, podemos perceber a evidência convincente para ignorar toda e
qualquer análise utilizando o percentual de defesas. A única, fraca, ligação
entre o percentual de defesas (1º gráfico), que fica condicionado com a
qualidade dos chutes possíveis de se defender. Algumas equipes tendem a
enfrentar tiros de qualidade mais elevados do que outros, portanto, alguns
goleiros tendem a ter maior índices de defesa do que outros. Nada mais nada
menos. Em cima de que, não vai ser uma enorme quantidade de variação no
desempenho.
Isso não significa que a defesa
das finalizações não é uma habilidade. Definitivamente é. Ele apenas indica que
entre todos fatores que ditam o percentual de defesas de um goleiro, a correlação
do nível de habilidade das defesas entre os melhores goleiros está muito próxima.
Outros fatores que influenciam no índice de defesa são completamente ofuscados
pelos efeitos das habilidades e qualidade das finalizações indicados pela
Expectativa de Gols (ExpG).
TALENTO DO GOLEIRO
Então, como realizar os scouts
dos talentos dos goleiros? Comece por ignorar o índice de defesas e você vai
deixar a maior parte dos scouting do mundo para trás. Seus scouts estarão visando
goleiros que já tiveram alta variação nos índices de defesa em algumas
temporadas, mas estes goleiros terão as mesmas chances na próxima temporada em
comparação com todos os outros goleiros. Goleiros que tiverem uma má sorte de
apresentar um baixo índice de defesas na temporada provavelmente serão
desvalorizados pelo mercado.
Quais sinais procurar, se não
utilizarmos a porcentagem de defesas? Este post mostra evidências convincentes
contra os índices de defesas, mas isso não quer dizer que todos os goleiros são
iguais. Longe disso. Pode muito bem ser que os melhores goleiros enfrentem
menos tiros ou disparos com uma ExpG inferior. Os melhores goleiros serão
aqueles que fornecem menos rebotes e chances de gol, menos escanteios, possuem
melhor saída de gol em cruzamentos, realizam as reposições com melhor qualidade
e atuam como líbero atrás da defesa (suporte defensivo).
Todo estas coisas pode ser
medidas, mas vai ser difícil separá-las do esforço dos defensores. Mas no
momento não chegaremos à isso. Entretanto, não se deixe ser enganado por percentual
das defesas.
(Tradução livre do texto: “Never judge a goal keeper by his saves”,
publicado originalmente no site 11tegen11.)
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