OBSERVAÇÃO: Obviamente, vale
destacar que este artigo não tem fins acadêmicos e não possui a pretensão de
definir a forma correta de se realizar a análise de goleiros.
A análise de desempenho é uma área que está crescendo e
se desenvolvendo rapidamente no futebol nos últimos anos e essa revolução está
muito atrelada com as quantidades de estatísticas que podemos obter à cada
partida: média de passes para frente, finalizações por gol, distância
percorrida, correlação entre posse de bola com finalização, etc. A revolução
dos números, nos abriu os olhos para podermos encarar o futebol com um ar mais
científico.
Antes disso, o conhecimento sobre os eventos em uma
partida de futebol eram muito superficiais e empíricos, sem qualquer
embasamento concreto. Como podemos ver no livro “Os Números do Jogo” (David
Sally e Chris Anderson), através dos números podemos quebrar inúmeros
paradigmas existentes no futebol e essa é a grande vantagem de se incluir a
utilização das estatísticas no futebol. Porém muito mais do que se obter os
números, devemos saber como interpretá-los, caso contrário eles terão pouca
utilidades.
Obviamente que a Análise de
Desempenho não se resume às estatísticas. Além disso, é realizado um estudo
tático e dos padrões de jogo da equipe/atleta. Como vimos anteriormente, uma análise só é
completa, quando consideramos os 4 aspectos fundamentais:
1-FÍSICO: Estes
fatores são extremamente complexos e inúmeros estudos buscam analisar estas
informação de diversas formas possíveis.
Os fundamentos técnicos dos goleiros, para serem
executados sob uma condição favorável requerem uma preparação física
condizente. Kraemer e Häkkinen (2004, p.89) afirmam que para defender a bola o
goleiro necessita de “um alto grau de velocidade de reação, agilidade em direções
diferentes a partir de diversas posições do corpo, velocidade para levantar do
solo e capacidade de mergulho e lançamento do corpo em outra direção, altura de
salto e velocidade inicial em um tiro para frente ou para trás”.
Os fatores físicos que devem ser mensurados para a
análise específica de goleiros, podem ser os seguintes:
NÍVEL
|
ITEM
|
DESCRIÇÃO
|
BÁSICOS
|
- Altura;
- Peso;
- Perna
Preferencial;
|
Fatores
extremamente simples e fáceis de se obter, mas que que podem ser fonte de
estudos bastante interessantes.
|
AVANÇADOS/
COMPLEMENTARES
|
- Envergadura;
- Velocidade;
- Força;
- Tempo de
Reação;
- Impulsão;
|
Estes itens são
bem mais específicos e a coleta destas informações praticamente se restringe
ao staff do próprio clube.
|
- Altura: o goleiro sempre foi visto com a necessidade de ser um
dos mais altos da equipe, porém esta fatura deve estar bastante alinhada com o
seu peso, uma vez que quanto maior a estatura, teoricamente, o goleiro terá
mais dificuldade para defender arremates rasteiros. Estudos buscam definir um
valor “ideal”, porém os especialistas do assunto afirmam que a estatura mais
equilibrada de um arqueiro encontra-se próxima de 1,90m.
Para termos uma noção de que esse
número é um valor bem aproximado, realizamos um levantamento dos goleiros mais
altos dos principais campeonatos da 1º divisão (Brasil, Argentina, Portugal,
Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, etc). Analisamos os 125 goleiros
mais altos destas ligas e chegamos à média de 1,92 m.
- Peso: quanto maior a altura, maior tende à ser o peso e menos
ágil se tornam os movimentos dos goleiros. O equilíbrio nestas ocasiões, pode
ser encontrado através do índice de massa corpórea (IMC). Durante estudos
realizados por SOUZA, W. C et al (2015) e VENOSO, B et al (2006), o IMC médio
dos goleiros analisados foi de 24,5.
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Ou seja, para o exemplo da média de altura encontrada (1,92), o goleiro deve ter em torno de 90 kg, para alcançar um IMC de 24,4. Conforme gráfico na imagem abaixo, a correlação entre o IMC e o Tempo de Reação se mostrou nula/inexistente, porém vale salientar que a capacidade de explosão dos músculos não foi levada em consideração.
- Perna Preferencial: Cada
individuo, incluindo os goleiros, tem preferência para executar os movimentos
com uma das mãos ou um dos pés, a chamada Dominância Lateral, ou popularmente
conhecida como Lateralidade. Esta é uma informação que à princípio parece
banal, mas não é. Todo goleiro possui um “lado preferencial de defesa”, ou
seja, o lado em que o goleiro realiza as defesas de forma mais natural. E a
perna preferencial pode influenciar diretamente para identificarmos estes
lados. Cada individuo, inclusive os goleiros tem preferência para executar os
movimentos com uma das mãos ou um dos pés, a chamada dominância Lateral, ou
popularmente conhecida como Lateralidade.
Existem
diversos estudos que buscam identificar qual é a relação da dominância lateral
nos goleiros: Por exemplo:
· Lado forte de defesa
baseado no local das finalizações: Alguns estudos relacionam o lado em que o
goleiro sofre menos gol, de acordo com o lado em que o chute foi desferido e a
dominância lateral (Veja matéria que busca estudar sobre isso. Aqui).
GOLEIROS DESTROS
|
GOLEIROS CANHOTOS
|
- Sofrem mais gols em
finalizações originadas em seu lado direito;
- Sofrem menos gols
em finalizações originadas em seu lado esquerdo;
|
- Sofrem mais gols em finalizações originadas em seu
lado esquerdo;
- Sofrem menos gols
em finalizações originadas em seu lado direito;
|
Segundo artigo
publicado no site DifferenteGame (Paul Riley): Levando
em consideração o local de origem das finalizações, a relação apresenta
relações cruzadas (Goleiro destro,sofre menos gols em finalizações vindas da
sua esquerda)
Utilizando o material das nossas análises de goleiros
publicadas no FutebolPlanejado, chegamos
à uma conclusão semelhante (principalmente para os goleiros destros que possuem
uma amostragem maior).
- Envergadura: esta é uma característica física contribui muito para o
goleiro realizar defesas que necessitem de um alcance maior. Uma boa
envergadura, aliada com uma boa impulsão facilitam a execução de defesas com
maior grau de dificuldade.
Segundo pesquisa realizada por VENOSO, B et al
(2006), a envergadura média dos goleiros, que possuem em média 1,90 é de
aproximadamente 1,92 m.
Existe uma forte
relação entre a Estatura e a Envergadura, então à tendência é que quanto maior
for a altura do goleiro, maior será seu poder de alcance com os braços.
- Velocidade e Força: estas duas características influenciam em diversas
qualidade de forma simultânea e são fundamentais para o goleiro. Força para
impulsão, para reposições longas, etc. Velocidade de recuperação, movimentação
frontal/lateral, etc.
- Tempo de Reação: Um
tempo de reação baixo, indica que o goleiro consegue realizar movimentos
(conscientes) de uma forma muito rápida.
Por exemplo, quando falamos que o goleiro “defendeu com o reflexo”, na maioria das vezes o correto seria falar que o “goleiro defendeu devido ao seu tempo de reação”. Isso porque, na verdade o reflexo está mais relacionado com ações “involuntárias”. De acordo com o estudo de VENOSO, B et al (2006), a média encontrada nos goleiros analisados em sua pesquisa foi de 0,384 m/s. Através deste estudo, foi possível também identificar qual outro aspecto físico possui maior relação com o tempo de reação.
- Impulsão: Possivelmente à mais
emblemática das características físicas de um goleiro, pois é essa habilidade
que permite o goleiro “voar”. O impulso é uma das ações mais exigidas
defensivamente de um goleiro, tanto horizontalmente (defesas) quanto
verticalmente (saídas de gol).
Segundo pesquisa realizada por Frisselli e Mantovani
(1999),o goleiro é o jogador de futebol que possui maior capacidade de realizar
maiores impulsões horizontais e verticais, conforme imagem abaixo:
CONCLUSÃO – ASPECTO FÍSICO:
Este primeiro aspecto, buscou introduzir
algumas características físicas fundamentais
para se analisar no desempenho de um goleiro.
Como já havia sido dito anteriormente, a
intenção deste artigo não é se aprofundar em cada uma das características
apresentadas, e sim levantar tópicos principais que podem agregar durante a
análise.
Para que cada característica do aspecto físico
seja explorada, a análise de desempenho deve levar as informações levantadas
para que sejam realizados treinamentos específicos à fim de amenizar/compensar
as fraquezas e potencializar as virtudes detectadas. Para isso, o Analista e o
Preparador de Goleiros devem se comunicar constantemente e monitorar o
rendimento físico do goleiro, tanto nos treinos quanto nos jogos.
No próximo artigo, comentaremos sobre os
Aspectos Táticos e Anímicos. (Continua)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
·
SOUZA, W. C et al
(2015). RELAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) E AGILIDADE DE GOLEIROS;
·
VENOSO, B et al
(2006). TEMPOS DE REAÇÃO, DE MOVIMENTO E ANTROPOMETRIA DE GOLEIROS
PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DE CAMPO;
·
MACARI, Reinaldo
(2015). ANÁLISE CINEMÁTICA DO SALTO DO GOLEIRO DE FUTEBOL EM COBRANÇAS DE
PÊNALTIS: RELAÇÃO ENTRE PREFERÊNCIA LATERAL E DESEMPENHO;
·
VIEIRA GOMES, F
(2011). A INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA NOS NÍVEIS DE IMPULSÃO HORIZONTAL
E VERTICAL EM GOLEIROS DE FUTEBOL DE CAMPO NA FASE DA ADOLESCÊNCIA;
·
GALLO, C. R. et al (2010). ANÁLISE DAS AÇÕES DEFENSIVAS E
OFENSIVAS, E PERFIL METABÓLICO DA ATIVIDADE DO GOLEIRO DE FUTEBOL PROFISSIONAL;
·
LIVRO: Treinamento
de força para o esporte (KRAEMER, W.J.;
HÄKKINEN, K.)
·
LIVRO: Futebol teoria e prática
(FRISSELLI, A.; MANTOVANI, M.);
·
LIVRO: Os números do jogo (ANDERSON, C.;
SALLY, D.);
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