terça-feira, 12 de julho de 2016

Uma reflexão sobre a análise de desempenho dos goleiros (Parte 3)

Para complementar a reflexão sobre as análises de goleiros, decidimos registrar a opinião de 2 grandes especialistas em análise de desempenho: 11Tegen11 e Gustavo Fogaça.
Neste primeiro momento, traduzimos um artigo onde o pessoal do site 11Tegen11 divaga sobre as formas de se medir o desempenho de um goleiro. Um excelente material que nos faz refletir bastante...


NUNCA JULGUE UM GOLEIRO POR SUA DEFESA
(Tradução livre do texto: “Never judge a goal keeper by his saves”, publicado originalmente no site 11tegen11.)
                Muitas vezes as análises e a intuição do futebol se encaixam muito bem, e nestas situações é fácil escrever artigos de análises. As vezes essa interação não ocorre e a escrita se torna mais difícil.
Eu estive pensando muito sobre a análise de goleiros. Um tópico que à princípio parece simples, mas como vamos descobrir neste post, é realmente uma tarefa difícil obter trabalhar em cima disso e analisar com propriedade.
De acordo com a “Onisciente” Wikipédia, um goleiro  é “aquele cuja função é evitar o gol, evitando que o clube adversário marque pontos através de defesas dos chutes deferidos contra sua meta”.
Então, o que poderia ser mais difícil do que avaliar quantos desses chutes acabam em gols e “voilá”, aqui está nossa análise de goleiros ?
Deixe-me levantar uma questão.  Não há necessidade de resposta, serve apenas para refletirmos sobre o assunto sobre o que achamos correto.
A melhor forma de identificar os talentos dos goleiros é:
A - Percentual de chutes defendidos;
B – Percentual de chutes em gol defendidos;
C - Percentual de chutes defendidos, levando em consideração á qualidade do chute;
D - Outras;
Na minha história pessoal dentro da análise do futebol eu tenho dedicado à maior parte do tempo no A, B e C.
Porém na última temporada passei a maior parte do tempo utilizando a C, mas algum trabalho de fundo que eu fiz nas últimas semanas mudaram-me para a D.
Sim, na minha opinião, a análise goleiro não pode se resumir com base na análise das defesas.
Agora, essa afirmação requer um pouco de back-up, então vamos lá. Na parte restante deste artigo vamos analisar goleiros no top-5 ligas (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha e França), que têm enfrentado ao menos 100 tiros em duas temporadas consecutivas (2012-13 e 2013-14), com o mesmo clube. Para a minha ideia, este é o melhor exemplo para usarmos, à fim de evitar que os goleiro que mudaram de equipes estraguem nossa amostra, e para evitar goleiros com números baixos de defesas.



PERCENTUAL DE CHUTES DEFENDIDOS

Vamos começar com o percentual bruto. Este é o parâmetro mais fácil de recolher, e, provavelmente, a mais utilizada das ferramentas de se avaliar goleiros. Ele também encaixa muito bem com a nossa intuição de que os bons goleiros, precisam parar uma maior proporção de finalizações que goleiros ruins.

O eixo horizontal mostram os percentuais de defesas no primeiro ano, e o eixo vertical mostram o percentual de defesas no ano subsequente. Lembre-se que estes são todos os goleiros que jogam duas temporadas para o mesmo clube e possuem mais de 100 defesas por 2 temporadas seguidas. A correlação não é muito forte, mas não é totalmente nula entre os eixos.

Geralmente, goleiros que apresentam bons índices de defesas no primeiro ano, melhoram ainda mais este índice no segundo ano, mas a dispersão é enorme. Isto torna os dados pouco confiáveis para estimar o percentual de defesas do 2º ano com base no primeiro.
A repetitividade dos goleiros em apresentar um bom índice de defesas é pobre. Em geral, se seu status tem uma má capacidade de repetição, é útil para descrever o que aconteceu, mas muito enganador supor que as coisas vão acontecer ao longo das mesmas linhas no futuro (próximas temporadas).
Estes números corroboram com o excelente trabalho realizado por James Grayson, que encontrou uma relação fraca semelhante em uma amostragem muito maior, comparando com as equipes em uma temporada e a próxima correspondente.

PERCENTUAL DE CHUTES EM GOL DEFENDIDOS
Vamos dar um passo em frente e isolar somente os tiros no alvo. Algumas pessoas optam por usar este índice ao invés de se usar o índice de defesa em relação ao total de finalizações, uma vez goleiros dificilmente são responsabilizados por chutes fora do gol. Em teoria, porém, os goleiros podem assumir a responsabilidade por algumas finalização para fora. Ao se aproximar de um atacante que pode finalizar em uma jogada 1 x 1, o goleiro poderia “fechar o gol” de tal modo à forçar os atacantes para tentar encontrar cantos mais difíceis do gol, e no fim o goleiro “induziu” o atacante a finalizar para fora. Enfim, são algumas hipóteses que podem acontecer.


Mais uma vez, o primeiro desempenho do ano é representada no eixo horizontal, com o segundo desempenho de ano para a vertical eixo. A ligação é ainda mais fraca para o percentual de defesas dos chutes em gol do que o índice de defesas para todos os tiros sofridos. Vamos guardar o debate até o próximo item.


PERCENTUAL DE DEFESAS CONSIDERANDO A QUALIDADE DAS FINALIZAÇÕES
A terceira análise leva em consideração a qualidade dos chutes. Com base em nosso modelo de Expectativa de Gols (ExpG), para cada finalização é atribuído uma chance de terminar em gol, com base no local do chute, tipo de chute e vários outros fatores. Isto ajuda a medir a dificuldade dos goleiros em realizar defesas. Em teoria, esta análise é o melhor teste para a qualidade das defesas, uma vez que elimina o fato de alguns goleiros de enfrentarem tiros mais difíceis do que outros. Gols sofridos acima de substituição identifica quantos gols um goleiro sofreu acima ou abaixo do valor de Expectativa de Gols por 100 chutes realizados em gol.


Depois de corrigir para a qualidade do tiro, toda a conexão entre o desempenho no ano primeiro e segundo ano desempenho é perdida.
A parte mais intrigante desta conclusão bastante chocante é que este conhecimento já está lá fora, no entanto, as pessoas continuam a analisar goleiros baseado somente nas defesas. Novamente, eu estou apontando para James Grayson, que, com números menores retirados de um post de Paul Riley, não encontraram correlação entre o percentual de defesas dos goleiros em uma temporada e a próxima, considerando o das finalizações.
Por favor, permita-me acrescentar mais um gráfico de dispersão. Desta vez, eu ligo o percentual de defesas com o ExpG para mostrar a forte ligação entre os dois:

Nenhum dos goleiros que enfrentaram chutes com Expectativa de Gol maior que 0,11 apresentou um índice de defesa maior que 92%, e nenhum goleiro que enfrentou finalizações com ExpG menores do que 0,09 apresentou um índice abaixo de 90%.


CONCLUSÃO
Colocando todos os quatro gráficos juntos, podemos perceber a evidência convincente para ignorar toda e qualquer análise utilizando o percentual de defesas. A única, fraca, ligação entre o percentual de defesas (1º gráfico), que fica condicionado com a qualidade dos chutes possíveis de se defender. Algumas equipes tendem a enfrentar tiros de qualidade mais elevados do que outros, portanto, alguns goleiros tendem a ter maior índices de defesa do que outros. Nada mais nada menos. Em cima de que, não vai ser uma enorme quantidade de variação no desempenho.
Isso não significa que a defesa das finalizações não é uma habilidade. Definitivamente é. Ele apenas indica que entre todos fatores que ditam o percentual de defesas de um goleiro, a correlação do nível de habilidade das defesas entre os melhores goleiros está muito próxima. Outros fatores que influenciam no índice de defesa são completamente ofuscados pelos efeitos das habilidades e qualidade das finalizações indicados pela Expectativa de Gols (ExpG).

TALENTO DO GOLEIRO
Então, como realizar os scouts dos talentos dos goleiros? Comece por ignorar o índice de defesas e você vai deixar a maior parte dos scouting do mundo para trás. Seus scouts estarão visando goleiros que já tiveram alta variação nos índices de defesa em algumas temporadas, mas estes goleiros terão as mesmas chances na próxima temporada em comparação com todos os outros goleiros. Goleiros que tiverem uma má sorte de apresentar um baixo índice de defesas na temporada provavelmente serão desvalorizados pelo mercado.
Quais sinais procurar, se não utilizarmos a porcentagem de defesas? Este post mostra evidências convincentes contra os índices de defesas, mas isso não quer dizer que todos os goleiros são iguais. Longe disso. Pode muito bem ser que os melhores goleiros enfrentem menos tiros ou disparos com uma ExpG inferior. Os melhores goleiros serão aqueles que fornecem menos rebotes e chances de gol, menos escanteios, possuem melhor saída de gol em cruzamentos, realizam as reposições com melhor qualidade e atuam como líbero atrás da defesa (suporte defensivo).
Todo estas coisas pode ser medidas, mas vai ser difícil separá-las do esforço dos defensores. Mas no momento não chegaremos à isso. Entretanto, não se deixe ser enganado por percentual das defesas.
(Tradução livre do texto: “Never judge a goal keeper by his saves”, publicado originalmente no site 11tegen11.)

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