quarta-feira, 6 de julho de 2016

Uma reflexão sobre a análise de desempenho dos goleiros (Parte 2)

 Todos os amantes do futebol (analistas ou não) sabem quão complexa uma partida de futebol pode ser, com inúmeros eventos secundários (passes, desarmes, finalizações, tiros de meta, defesas, carrinhos, escanteios, etc.) que são executados tendo um único objetivo: marcar um gol no adversário. Para isso ocorrer, as equipes se estruturam taticamente munidas de diversas estratégias, dispondo seus atletas em posições de acordo com as características individuais de cada um. Tudo isso, para marcar mais gols que seu adversário. Dentro desse universo particular, os goleiros estão inseridos à fim de evitar que os gols sejam realizados... uma tarefa ingrata, diga-se de passagem. Ou seja, existe um universo ainda mais complexo por trás desta posição tão injustiçada do futebol.
            Partindo do pressuposto de que queremos refletir sobre o método de análise de desempenho dos goleiros, antes de mais nada temos que esclarecer alguns pontos. Tais como:
            - Como definir um bom goleiro ? (Parte 1)
            - Como definir um mau goleiro ?
            - Como analisar o desempenho de um goleiro ?

  •    MAU GOLEIRO: Obviamente se é difícil classificarmos um bom goleiro, tachar um goleiro de ruim deveria ter o mesmo nível de dificuldade, não é mesmo ? Ledo engano, pois os espectadores do futebol possuem uma capacidade incomum de identificar os famosos “frangueiros”. Mas como podemos detectar o “mau-goleiro” ?



Todo mundo, em qualquer meio social, passa por altos e baixos, porém muitos goleiros acabam sendo estigmatizados por suas falhas e passam à ser conhecidos como “frangueiros”.
De maneira geral, os critérios utilizados para classificar um mau goleiro mais utilizados (de forma consciente ou não) são os seguintes:

- Falha grotesca: são aquelas falhas em que o goleiro sofre um gol devido à um erro crasso. Estas falhas ficam marcadas na memória dos torcedores de forma indelével e a associação do goleiro ao adjetivo pejorativo relacionado à aves, é consequência.

            Por exemplo: chute fraco (despretensioso), que o goleiro faz o movimento para encaixar a bola, porém ela passa de forma surpreendente para o fundo das redes.


- Sequência de falhas menores: quando o goleiro, mesmo não cometendo falhas gigantescas, acaba sofrendo um grande número de “gols defensáveis/questionáveis” em sequência. As falhas menores, são as mais difíceis de classificar, pois o erro não é tão bem definido e claro quanto as grandes falhas.
            Estas “falha questionáveis” acabam gerando dúvidas no meio esportivo e o goleiro acaba adquirindo a fama de “mau-goleiro”.

Os dados das falhas são difíceis de se encontrar e um histórico é praticamente impossível. Tudo isso, porque as falhas dependem de uma análise qualitativa e os critérios para classificar os gols sofridos não é um consenso.
Mas será que somente analisando as falhas que conseguimos recordar de um determinado goleiro, teremos um dado suficiente para determinar se este goleiro é “frangueiro” / “peruzeiro” / “mão-de-alface” / “braço-de-jacaré” e afins ?

Creio que possam existir indicadores específicos para as falhas, mas que não serão determinantes para qualificar o goleiro, por exemplo:

- Média de Falhas por Finalizações Sofridas: assim poderemos ter uma melhor noção se essas falhas possuem relação com o nível que o arqueiro está sendo exigido. Exemplo: Média de 0,02 falhas por finalização (falha em 2% dos chutes direcionados ao gol);

- Tempo Médio entre Falhas: e se quisermos saber o tempo médio (quantidade de jogos) que o goleiro falha ? Poderíamos ter uma noção das falhas à um nível mais global. Exemplo: Tempo médio entre falhas de 10 jogos (ou seja, se a média for mantida, existe uma grande probabilidade deste goleiro falhar no 11º jogo após seu último grande erro).

Enfim, estes foram exemplos simples, mas a ideia aqui é buscar elevar ainda mais os dados de falhas, e não utilizar friamente apenas um número. Assim teremos maior embasamento para afirmar se um goleiro comete mais falhas que outro.

Mas não podemos restringir a avaliação dos goleiros apenas às suas falhas em gols sofridos, pois no futebol atual cada vez mais os goleiros estão sendo exigidos em outros aspectos, que não somente suas defesas. Ao separar o total de eventos dos goleiros nas partidas, percebemos que apenas uma pequena parte é pertinente às defesas, conforme gráfico abaixo:


Podemos perceber que as habilidade específicas dos goleiros (defesas e saídas de gol) representam em média apenas 17% e as habilidades gerais (reposições e suportes defensivos) em média representam 83%. Ou seja, as falhas em gols sofridos representam apenas uma pequena fração de todas as participação dos arqueiros em uma partida.
Se as habilidades específicas de um goleiro, representam tão pouco nas intervenções de um goleiro na partida, então porque apenas as consideramos para avaliar um goleiro ?
Por quê, antes de classificarmos um goleiro em “bom” ou “mau” não avaliamos sua reposição ? Ou sua saída de gol ? Ou seu suporte defensivo ? Ou até mesmo, por quê não a importância das suas defesas ?
Essas e outras questões, serão debatidas no próximo artigo (Continua).

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