quarta-feira, 13 de julho de 2016

Uma reflexão sobre a análise de desempenho dos goleiros (Parte 5)

OBSERVAÇÃO: Obviamente, vale destacar que este artigo não tem fins acadêmicos e não possui a pretensão de definir a forma correta de se realizar a análise de goleiros.
          
  A análise de desempenho é uma área que está crescendo e se desenvolvendo rapidamente no futebol nos últimos anos e essa revolução está muito atrelada com as quantidades de estatísticas que podemos obter à cada partida: média de passes para frente, finalizações por gol, distância percorrida, correlação entre posse de bola com finalização, etc. A revolução dos números, nos abriu os olhos para podermos encarar o futebol com um ar mais científico.
         
   Antes disso, o conhecimento sobre os eventos em uma partida de futebol eram muito superficiais e empíricos, sem qualquer embasamento concreto. Como podemos ver no livro “Os Números do Jogo” (David Sally e Chris Anderson), através dos números podemos quebrar inúmeros paradigmas existentes no futebol e essa é a grande vantagem de se incluir a utilização das estatísticas no futebol. Porém muito mais do que se obter os números, devemos saber como interpretá-los, caso contrário eles terão pouca utilidades.



         
   Obviamente que a Análise de Desempenho não se resume às estatísticas. Além disso, é realizado um estudo tático e dos padrões de jogo da equipe/atleta.  Como vimos anteriormente, uma análise só é completa, quando consideramos os 4 aspectos fundamentais:


1-FÍSICO: Estes fatores são extremamente complexos e inúmeros estudos buscam analisar estas informação de diversas formas possíveis.
Os fundamentos técnicos dos goleiros, para serem executados sob uma condição favorável requerem uma preparação física condizente. Kraemer e Häkkinen (2004, p.89) afirmam que para defender a bola o goleiro necessita de “um alto grau de velocidade de reação, agilidade em direções diferentes a partir de diversas posições do corpo, velocidade para levantar do solo e capacidade de mergulho e lançamento do corpo em outra direção, altura de salto e velocidade inicial em um tiro para frente ou para trás”.
Os fatores físicos que devem ser mensurados para a análise específica de goleiros, podem ser os seguintes:

NÍVEL
ITEM
DESCRIÇÃO
BÁSICOS
- Altura;
- Peso;
- Perna Preferencial;
Fatores extremamente simples e fáceis de se obter, mas que que podem ser fonte de estudos bastante interessantes.

AVANÇADOS/
COMPLEMENTARES
- Envergadura;
- Velocidade;
- Força;
- Tempo de Reação;
- Impulsão;
Estes itens são bem mais específicos e a coleta destas informações praticamente se restringe ao staff do próprio clube.

- Altura: o goleiro sempre foi visto com a necessidade de ser um dos mais altos da equipe, porém esta fatura deve estar bastante alinhada com o seu peso, uma vez que quanto maior a estatura, teoricamente, o goleiro terá mais dificuldade para defender arremates rasteiros. Estudos buscam definir um valor “ideal”, porém os especialistas do assunto afirmam que a estatura mais equilibrada de um arqueiro encontra-se próxima de 1,90m.

  Para termos uma noção de que esse número é um valor bem aproximado, realizamos um levantamento dos goleiros mais altos dos principais campeonatos da 1º divisão (Brasil, Argentina, Portugal, Espanha, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, etc). Analisamos os 125 goleiros mais altos destas ligas e chegamos à média de 1,92 m.


 - Peso: quanto maior a altura, maior tende à ser o peso e menos ágil se tornam os movimentos dos goleiros. O equilíbrio nestas ocasiões, pode ser encontrado através do índice de massa corpórea (IMC). Durante estudos realizados por SOUZA, W. C et al (2015) e VENOSO, B et al (2006), o IMC médio dos goleiros analisados foi de 24,5





  Ou seja, para o exemplo da média de altura encontrada (1,92), o goleiro deve ter em torno de 90 kg, para alcançar um IMC de 24,4. Conforme gráfico na imagem abaixo, a correlação entre o IMC e o Tempo de Reação se mostrou nula/inexistente, porém vale salientar que a capacidade de explosão dos músculos não foi levada em consideração.














  - Perna Preferencial: Cada individuo, incluindo os goleiros, tem preferência para executar os movimentos com uma das mãos ou um dos pés, a chamada Dominância Lateral, ou popularmente conhecida como Lateralidade. Esta é uma informação que à princípio parece banal, mas não é. Todo goleiro possui um “lado preferencial de defesa”, ou seja, o lado em que o goleiro realiza as defesas de forma mais natural. E a perna preferencial pode influenciar diretamente para identificarmos estes lados. Cada individuo, inclusive os goleiros tem preferência para executar os movimentos com uma das mãos ou um dos pés, a chamada dominância Lateral, ou popularmente conhecida como Lateralidade.
  
  Existem diversos estudos que buscam identificar qual é a relação da dominância lateral nos goleiros: Por exemplo:

·  Lado forte de defesa baseado no local das finalizações: Alguns estudos relacionam o lado em que o goleiro sofre menos gol, de acordo com o lado em que o chute foi desferido e a dominância lateral (Veja matéria que busca estudar sobre isso. Aqui).

GOLEIROS DESTROS
GOLEIROS CANHOTOS
- Sofrem mais gols em finalizações originadas em seu lado direito;

- Sofrem menos gols em finalizações originadas em seu lado esquerdo;
- Sofrem mais gols em finalizações originadas em seu lado esquerdo;

- Sofrem menos gols em finalizações originadas em seu lado direito;
Segundo artigo publicado no site DifferenteGame (Paul Riley): Levando em consideração o local de origem das finalizações, a relação apresenta relações cruzadas (Goleiro destro,sofre menos gols em finalizações vindas da sua esquerda)


 ·  Lado forte de defesa baseado na perna preferencial: Talvez a relação mais fácil de ser compreendida, porém quando falamos em análise, devemos considerar o método científico. Um estudo de MACARI, Reinaldo (2015), aponta que os goleiros analisados em seu estudo, apresentaram preferência lateral com condição assimétrica (goleiro destro, possui mais facilidade para defender em seu lado direito).

Utilizando o material das nossas análises de goleiros publicadas no FutebolPlanejado, chegamos à uma conclusão semelhante (principalmente para os goleiros destros que possuem uma amostragem maior).

- Envergadura: esta é uma característica física contribui muito para o goleiro realizar defesas que necessitem de um alcance maior. Uma boa envergadura, aliada com uma boa impulsão facilitam a execução de defesas com maior grau de dificuldade.
Segundo pesquisa realizada por VENOSO, B et al (2006), a envergadura média dos goleiros, que possuem em média 1,90 é de aproximadamente 1,92 m.















     Existe uma forte relação entre a Estatura e a Envergadura, então à tendência é que quanto maior for a altura do goleiro, maior será seu poder de alcance com os braços.




     - Velocidade e Força: estas duas características influenciam em diversas qualidade de forma simultânea e são fundamentais para o goleiro. Força para impulsão, para reposições longas, etc. Velocidade de recuperação, movimentação frontal/lateral, etc.


     - Tempo de Reação: Um tempo de reação baixo, indica que o goleiro consegue realizar movimentos (conscientes) de uma forma muito rápida.

Por exemplo, quando falamos que o goleiro “defendeu com o reflexo”, na maioria das vezes o correto seria falar que o “goleiro defendeu devido ao seu tempo de reação”. Isso porque, na verdade o reflexo está mais relacionado com ações “involuntárias”. De acordo com o estudo de VENOSO, B et al (2006), a média encontrada nos goleiros analisados em sua pesquisa foi de 0,384 m/s. Através deste estudo, foi possível também identificar qual outro aspecto físico possui maior relação com o tempo de reação.


- Impulsão:   Possivelmente à mais emblemática das características físicas de um goleiro, pois é essa habilidade que permite o goleiro “voar”. O impulso é uma das ações mais exigidas defensivamente de um goleiro, tanto horizontalmente (defesas) quanto verticalmente (saídas de gol).
   Segundo pesquisa realizada por Frisselli e Mantovani (1999),o goleiro é o jogador de futebol que possui maior capacidade de realizar maiores impulsões horizontais e verticais, conforme imagem abaixo:




CONCLUSÃO – ASPECTO FÍSICO:

  Este primeiro aspecto, buscou introduzir algumas características  físicas fundamentais para se analisar no desempenho de um goleiro.

 Como já havia sido dito anteriormente, a intenção deste artigo não é se aprofundar em cada uma das características apresentadas, e sim levantar tópicos principais que podem agregar durante a análise.

 Para que cada característica do aspecto físico seja explorada, a análise de desempenho deve levar as informações levantadas para que sejam realizados treinamentos específicos à fim de amenizar/compensar as fraquezas e potencializar as virtudes detectadas. Para isso, o Analista e o Preparador de Goleiros devem se comunicar constantemente e monitorar o rendimento físico do goleiro, tanto nos treinos quanto nos jogos.

 No próximo artigo, comentaremos sobre os Aspectos Táticos e Anímicos. (Continua)









REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

·         SOUZA, W. C et al (2015). RELAÇÃO ENTRE ÍNDICE DE MASSA CORPORAL (IMC) E AGILIDADE DE GOLEIROS;

·         VENOSO, B et al (2006). TEMPOS DE REAÇÃO, DE MOVIMENTO E ANTROPOMETRIA DE GOLEIROS PROFISSIONAIS DE FUTEBOL DE CAMPO;

·         MACARI, Reinaldo (2015). ANÁLISE CINEMÁTICA DO SALTO DO GOLEIRO DE FUTEBOL EM COBRANÇAS DE PÊNALTIS: RELAÇÃO ENTRE PREFERÊNCIA LATERAL E DESEMPENHO;

·         VIEIRA GOMES, F (2011). A INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DE FORÇA NOS NÍVEIS DE IMPULSÃO HORIZONTAL E VERTICAL EM GOLEIROS DE FUTEBOL DE CAMPO NA FASE DA ADOLESCÊNCIA;

·         GALLO, C. R. et al (2010). ANÁLISE DAS AÇÕES DEFENSIVAS E OFENSIVAS, E PERFIL METABÓLICO DA ATIVIDADE DO GOLEIRO DE FUTEBOL PROFISSIONAL;

·         LIVRO: Treinamento de força para o esporte (KRAEMER, W.J.; HÄKKINEN, K.)

·         LIVRO: Futebol teoria e prática (FRISSELLI, A.; MANTOVANI, M.);

·         LIVRO: Os números do jogo (ANDERSON, C.; SALLY, D.);

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